O que queremos dizer, hoje, quando dizemos que lemos
Latim? A vasta maioria das vezes, salvo raras e honradas excepções, quer dizer que traduzimos. O recurso à tradução, seja à própria prévia seja à de outrem, tornou-se uma bengala simultaneamente incómoda e necessária. Isto não deve surpreender ninguém que esteja
familiarizado com o ensino de línguas modernas: para nos podermos reclamar um
domínio sólido sobre qual for a língua precisamos de ter essa língua presente
no uso activo. Não podemos negar que enquanto se falou Latim fomos capazes de ler os clássicos latinos. O fim da primeira levou ao fim da segunda. Urge então, é a conclusão pedida, voltar a utilizar o Latim usu vivo.
Não é meu propósito, nem creio que seja o de de alguém sanae mentis, devolver ao Latim o trono de “rainha das línguas”, ou de o propor como língua oficial seja do que for — tão só de o de contribuir por pouco que seja para facilitar o acesso ao ciclo de obras literárias e científicas que passa por Vergílio, Augustinho, Marsílio de Pádua ou Erasmo, que pelos séculos fora uns com os outros falaram em diálogo ininterrupto, diálogo do qual nos arriscamos agora a ficar de fora à medida que deixamos de ser capazes de responder (o mesmo se passa, em caso mais agudo ainda, com o Grego de Platão, Plutarco, Plethon.)
Não é meu propósito, nem creio que seja o de de alguém sanae mentis, devolver ao Latim o trono de “rainha das línguas”, ou de o propor como língua oficial seja do que for — tão só de o de contribuir por pouco que seja para facilitar o acesso ao ciclo de obras literárias e científicas que passa por Vergílio, Augustinho, Marsílio de Pádua ou Erasmo, que pelos séculos fora uns com os outros falaram em diálogo ininterrupto, diálogo do qual nos arriscamos agora a ficar de fora à medida que deixamos de ser capazes de responder (o mesmo se passa, em caso mais agudo ainda, com o Grego de Platão, Plutarco, Plethon.)
Como podemos
nós então despertar esse uso vivo da língua? Um outro fenómeno crescente
principalmente na Europa são os ditos Circuli Latini, um nome que indica simplesmente grupos de diálogo e leitura de textos
latinos – em Latim. Só em Espanha contamos seis, na Alemanha quatro, em Itália cinco. Em
Portugal porém até à data com nenhum. E é para vos propor a
fundação do primeiro que vos escrevo.
O que é que
implicaria? Seriam encontros presenciais, cuja determinação mais óbvia seria a salutar compulsão para que falássemos latim. Estou bem
consciente de que é possível sermos capazes por vezes de lidar com textos
bastante complexos sem no entanto sermos capazes de nos exprimir com
satisfação; estou também consciente de que o início é algo de frustrante. Mas
sei também quais os frutos daí gerados com relativamente pouco esforço. Tais encontros implicariam conversas em
Latim, leituras comentadas de textos conhecidos ou não, et hujusgeneris alia: ou seja, tudo coisas a que estamos já habituados, com a excepção de que tudo seria feito em Latim.
Há algumas decisões iniciais que careceriam de ser tomadas. Sobressai a
decisão do lugar a optar. Duas cidades afiguram-se-me como possíveis a uma
primeira sondagem, Coimbra e Lisboa, mas pode ser que possamos alterar isso
dependendo de onde esteja a maior parte das pessoas interessadas. Parece-me que
teríamos bastante mais a ganhar em encontrarmo-nos em lugares alternados do que
a dividirmo-nos em dois ou mais Circuli
logo de início: somos demasiado poucos, para nada nos presta a insularidade. Um
Circulus Latinus Lusitanicus, pelo menos a princípio, em lugar
dum Olisiponensis ou dum Conimbricensis.
Mas esse, assim como toda a configuração do grupo, pode ser discutida mais tarde. Assim que tivermos um número mínimo poderemos
largar âncora, e tratar do resto mais tarde. Escusado é dizer que nada está de maneira alguma fixo, que as
opiniões constructivas são mais que bem-vindas, e que todos temos a ganhar com
a disseminação dum conhecimento cada vez mais profundo da língua latina em
Portugal. Diis faventibus, poderemos
contribuir com o nosso pouco.
Peço então que quem esteja disposto a embarcar o diga nesta mensagem, ou que envie um email para circuluslatinuslusitanicus @ gmail.com. Peço ainda que reencaminheis esta mensagem a todos quantos julgueis possivelmente interessados em tomar parte, indivíduos e grupos. Tentarei também naturalmente responder a quaisquer perguntas que existam.
Curate ut valeatis.
Miguel Monteiro.
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